Trago por aqui a nova de que já é possível aceder – nas plataformas digitais – as músicas do EP “Feito em Casas”. Inicialmente, havia pensado em “engordar” esse punhado de canções, até que atingisse o status de “álbum”… Mas tanta coisa aconteceu e deixou de acontecer nesse tempo louco em que vivemos - entre pandemias e pandemônios -, que resolvi deixá-lo assim mesmo como ele quedou, um registro do que conseguimos aprontar nessa época de máscaras e aflições.

Tudo começou com a faixa EQUILÍBRIOEla foi o protótipo para o esquema de produção aplicado naquele período de isolamento, com cada um dos profissionais envolvidos operando dentro de suas moradias. Ela apareceu primeiro como “single”. No site mariofalcao.com.br deixei algumas impressões sobre a canção que, agora, abre o EP: “O tema me é fascinante, talvez por representar uma tendência natural. Dizem que o universo é o caos em certa ordem ou que é feito de doses equilibradas entre bagunça e calmaria. Vivemos num tempo e lugar onde há brutais desequilíbrios. E forças que reagem incansáveis na tentativa de, no mínimo, pensar ‘outro mundo possível’. A letra passeia de forma lúdica por ‘imagens de equilíbrio’, desde o mais simples, como aquele de que precisamos para caminhar. Ou daquele que nos garante alguma paz. O respeito à diversidade, por exemplo, é condição que possibilita o equilíbrio inerente ao convívio em um mesmo território. A ideia da letra também é a de colocar luzes na potência da palavra em foco e em suas ramificações semânticas.” Quanto à performance musical da gravação, prefiro ouvir os comentários de vocês, mas faço o destaque para a guitarra solo do mestre Zé Ramos, que desde a primeira vez que escutou essa canção – naquele dia, tocada só com voz e violão – me disse que “ouvia coisas” por ali...

A sequência de acordes da harmonia inicial da canção JEREBA começou a surgir na praia do Cassino. Era um grupo de acordes graves, com um tom “escuro”. Ao reler e, digamos, entrar “em conexão” com o texto escrito por Tom Jobim na contracapa do LP “Urubu”, resolvi fazer uma homenagem, uma releitura da ideia central daquela prosa poética em forma de letra de música. Do texto original pincei vários nomes e apelidos que identificam o urubu-de-cabeça-vermelha – urubupeba, camiranga, jereba, gameleira – palavras que Tom Jobim catalogou em suas pesquisas sobre o Brasil profundo. Na parte instrumental deste tema, resolvi evocar uma frase musical de nosso maestro soberano – pode ser ouvida no toque da flauta tocada por Ianes Coelho e no piano tocado por Luiz Mauro Filho.

E por falar no grande Luiz Mauro Filho, registramos nossa primeira parceria: OLHAR SIAMÊSmúsica dele e letra minha. O mestre Luiz me brindou, certa feita, com dois temas, dois desafios. Um deles consegui “letrar”. O outro, ainda quero… Neste ora divulgado, a ideia da letra era, primeiramente, de não atrapalhar a beleza musical do conjunto melodia/harmonia oferecido. Me dirigi então, para o lado “reflexivo” que a música me sugeria. Como acho enfadonho explicar letra de música, deixo aqui aos ouvintes a possibilidade de encontrar os caminhos interpretativos ao seu bel prazer.

Logo em seguida vem a faixa BRISAonde também apareço como autor da letra para a bela música de autoria de Zé Ramos. Quero compartilhar aqui com vocês uma curiosidade: no arranjo inicial, havia também violão, tocando a harmonia de base. Porém, inspirado nos arranjos minimalistas de um álbum de que gosto muito (“The Book of Chet”, de Luciana Souza), resolvi experimentar subtrair a base do violão, deixando que a harmonia fosse executada pelos instrumentos que chegaram depois, ou seja, no entorno daquele toque de violão que apenas serviu como “guia”. Bueno, ouve lá, confere se a música ganhou leveza, como a brisa ali cantada.

NOSSO CANTO é uma canção que surgiu a partir de minha participação como músico convidado da Escola Projeto no ano de 2020. A ideia era aproximar o universo da cultura Mbya Guarani e as crianças, de maneira que elas pudessem cantar junto, tal como as crianças Mbya costumam fazer nos corais de suas comunidades. Foi pensando em nossos ancestrais indígenas que elaborei as quatro estrofes da letra, todas começando com um dos quatro elementos da natureza (água, fogo, terra e ar) e ampliando para outros componentes formadores de sua rica cultura.

Pois então, espero que desfrutem.

Gratidão por acompanharem.  

Saúde! 

Deixo aqui a ficha técnica do EP e alguns links para ouví-lo: 

Feito em Casas
Mário falcão – composições, voz e violão;
Ricardo Arenhaldt – bateria e percussão;
Everson Vargas – baixo;
Zé Ramos – guitarra, autor da música “Brisa” (letra de M. Falcão);
Luiz Mauro Filho – teclados, autor da música “Olhar Siamês” (letra de M. Falcão);
Fernando Sessé – percussão e efeitos eletroacústicos;
Ianes Coelho – flauta;
Tiago Becker – mixagem e masterização (quatro primeiras faixas);
Leo Braga: programação, mixagem e master (faixa 'nosso canto').

Bandcamp https://mariofalcao.bandcamp.com

Deezer https://deezer.page.link/2mMVz2592rbiVqUn9

Apple Music /https://music.apple.com/br/album/feito-em-casas-ep/1671076902

essa canção faz parte do projeto do álbum feito em casas que está em andamento. estamos enfrentando o desafio de gravar em um período totalmente atípico, em função da pandemia e de suas nefastas repercussões em nosso castigado brasil.

https://tratore.ffm.to/equilibrio

equilíbrio. o tema me é fascinante, talvez por representar uma tendência natural. dizem que o universo é o caos em certa ordem, ou que é feito de doses equilibradas entre bagunça e calmaria. vivemos num tempo e lugar onde há brutais desequilíbrios. e forças que reagem incansáveis na tentativa de, no mínimo, pensar "outro mundo" possível. a letra passeia de forma lúdica por “imagens de equilíbrio”, desde o mais simples, como aquele que precisamos ter para caminhar. ou daquele que nos garante alguma paz. o respeito à diversidade, por exemplo, é uma forma de equilíbrio que garante convívio em um mesmo território. a ideia da letra é, também, fazer chegar ao público a potência desta palavra e de suas ramificações semânticas.

na corda bamba de bicicleta
no movimento do caminhar
em qualquer dança, qualquer mudança
na atitude que vai tomar

na ponte estreita sobre a lagoa
no balanço da canoa, subindo rio
descendo escada de madrugada
no desabalo, no desafio

no território de convívio, o equilíbrio

pra quem alerta a comunidade
passando a limpo uma notícia
chegando ao topo da humildade
sendo ladrão ou sendo polícia

pra quem reclama, pra quem se cala
pra quem se entrega ao lugar de fala
pra quem descansa, pra quem labuta
pra quem respeita o lugar de escuta

no território de convívio, o equilíbrio

pra quem desperta com muito sono
pra quem precisa, mas não quer ir
no remelexo do trem das horas
bolando plano pra não cair

a lata d’água sobre a cabeça
e pra cabeça poder lembrar
a lei da ação e da reação
na história de uma plúrima relação

no território de convívio, o equilíbrio

                                                                                      

ficha técnica:                                                   

mário falcão – composição, voz e violões;
ricardo arenhaldt – bateria;
everson vargas – baixo;
zé ramos – guitarra;
fernando sessé – percussão, kaossilator, wavedrum e mpc.
mixagem e masterização: tiago becker.            

nosso canto


  repertório:

  1. nosso canto (mário falcão) / jaje’oi tape rupi ("romário" wera xunun)

  2. interior (alexandre vieira / mário falcão)

  3. muambeiro (mário falcão / sebastián jantos)

  4. cultivo uma rosa branca (mário falcão / josé martí)

  5. un hermano (mário falcão / julio cortázar)

  6. vamos chegar (mário falcão)

  7. paula, clara (mário falcão)

  8. equilíbrio (mário falcão)

  9. junho (mário falcão)

  10. taim (mário falcão)

  11. jereba (mário falcão)

  12. quem mandou (mário falcão)

  13. curiosidades (mário falcão)

  14. santiago (mário falcão)

  15. oração (mário falcão)